Por Que a Vivo Está Dizendo “Não” para a Oi Soluções

Imagina ter a chance de comprar um ativo estratégico de um concorrente em dificuldades. Parece oportunidade de ouro, certo? Errado. Pelo menos é o que a Vivo está mostrando ao deixar claro: a Oi Soluções não está no radar. Mas por que uma gigante que cresce 34% ao ano no B2B viraria as costas para uma aquisição que poderia consolidar ainda mais seu domínio?

A resposta revela muito mais do que uma simples decisão de negócios. Ela expõe a estratégia silenciosa que está transformando a Vivo na potência mais temida do mercado brasileiro de telecomunicações.

O Recado Direto: “Não Estamos Interessados”

Durante a apresentação dos resultados do terceiro trimestre de 2025, Christian Gebara, presidente da Vivo, foi cirúrgico ao cravar: não há negociação em andamento com a Oi Soluções. A unidade B2B da Oi, que a operadora tenta vender desesperadamente para evitar liquidação judicial, simplesmente não se encaixa no perfil das empresas que a Vivo tem adquirido.

E aqui está o primeiro insight: a Vivo não está comprando por comprar. Suas aquisições recentes foram precisas como bisturi: a Vivo IT (integradora Cisco) e a IPNet (especialista em cloud computing e Google Cloud). Empresas com DNA tecnológico específico, não simplesmente provedoras de serviços corporativos genéricos.

A Oi Soluções? Bem, ela vem de uma era diferente das telecomunicações. Uma era que a Vivo claramente decidiu deixar para trás.

O Crescimento Que Dispensa Atalhos

Aqui vem o dado que faz qualquer concorrente suar frio: a receita de Dados Corporativos, TIC e Serviços Digitais da Vivo cresceu 22,8% no trimestre, atingindo R$ 1,4 bilhão. Nos últimos 12 meses, o número salta para impressionantes R$ 5,1 bilhões, com crescimento de 34,2%.

Pense nisso por um segundo. Uma empresa que cresce mais de um terço ao ano no segmento corporativo não precisa de “atalhos estratégicos”. Ela pode se dar ao luxo de ser seletiva. E é exatamente isso que está acontecendo.

O cardápio de soluções da Vivo impressiona: cloud computing, cibersegurança, big data, IoT, mensageria, venda e aluguel de equipamentos de TI. Não são produtos de telecom raiz. São soluções de transformação digital. A diferença? Uma é commodity, a outra é estratégica para os clientes.

Comparando com a Concorrência: O Abismo Se Amplia

Enquanto a Vivo cresce organicamente com margem EBITDA de 43,4% (a maior em dois anos), outras operadoras correm atrás do prejuízo. A Oi tenta vender ativos para não quebrar. A TIM foca em consolidação de infraestrutura. A Claro? Bem, ela está negociando a Desktop, justamente a provedora que a Vivo avaliou e… rejeitou.

Isso não é coincidência. É o resultado de escolhas estratégicas feitas anos atrás.

Desktop: Quando “Não” É a Resposta Mais Inteligente

Falando em Desktop, a história aqui é fascinante. A Vivo entrou em conversas com a provedora paulista, avaliou três critérios fundamentais (sobreposição, qualidade técnica e preço) e simplesmente… desistiu.

O termo usado por Gebara é revelador: “O negócio não era realista para a Vivo.”

Traduzindo: o preço pedido não fazia sentido considerando o retorno potencial. E aqui está uma lição valiosa sobre gestão: saber o que NÃO comprar é tão importante quanto saber o que comprar. Principalmente em um mercado onde muitos jogadores estão fazendo aquisições desesperadas para mostrar crescimento nos balanços.

A Desktop agora está em negociação com a Claro. Será interessante observar se o negócio se concretiza e, mais importante, se trará o retorno esperado. Apostas desnecessárias raramente compensam no longo prazo.

A Estratégia Orgânica: Fibrasil e o Jogo de Paciência

Enquanto rejeita alvos caros, a Vivo aposta em outro caminho: crescimento orgânico turbinado por aquisições cirúrgicas. A recompra da Fibrasil por R$ 850 milhões (já aprovada pelo CADE) ilustra perfeitamente essa estratégia.

O resultado? 31,5 milhões de domicílios passados com fibra óptica. Mas o número que realmente importa está na retenção de clientes: a Vivo está liderando também nesse quesito.

Por quê? Qualidade da rede, inovação tecnológica e facilidades de pagamento. Parece simples, mas poucos conseguem executar bem. E no mundo real dos negócios, execução supera estratégia toda vez.

O Efeito Vivo Total: Convergência Como Arma Competitiva

A oferta convergente Vivo Total (combinando móvel e fibra) representou 85,1% das novas adesões de fibra no trimestre. São 3,2 milhões de assinantes, crescimento anual de 52,7%.

Pense na armadilha competitiva que isso representa: quanto mais o cliente usa serviços integrados, menor a chance de trocar de operadora. É o que chamamos de “lock-in positivo” – você não fica porque é difícil sair, mas porque é vantajoso ficar.

O Plano de Longo Prazo: Vendendo o Passado, Construindo o Futuro

Aqui está algo que passa despercebido: a Vivo planeja arrecadar R$ 4,5 bilhões até 2028 vendendo ativos legados. São R$ 3 bilhões em cobre (tecnologia obsoleta) e R$ 1,5 bilhão em imóveis antigos do STFC.

No terceiro trimestre, foram R$ 34 milhões em cobre e cerca de R$ 200 milhões em imóveis. Valores pequenos, mas a tendência é acelerar a partir de 2026.

O que isso significa? A Vivo está sistematicamente se desfazendo do passado para investir no futuro. Enquanto isso, a Oi está vendendo o presente para pagar o passado. Vê a diferença de posicionamento estratégico?

Os Números Que Contam a História Real

Vamos aos dados brutais do terceiro trimestre de 2025:

Lucro líquido: R$ 1,9 bilhão (+13,3% vs. 2024)

Receita total: R$ 14,9 bilhões (+6,5%)

EBITDA: R$ 6,5 bilhões (+9,0%), com margem de 43,4%

Base total: 116,6 milhões de acessos

Fibra: 7,6 milhões de acessos (+12,7%)

Pós-pago móvel: 69,8 milhões de clientes (+7,3%)

Mas o dado que realmente impressiona é este: a receita da operação fixa cresceu 9,6%, a maior da série histórica recente. A fibra sozinha trouxe R$ 2,0 bilhões, crescimento de 10,6%.

Decodificando os Números: O Que Eles NÃO Dizem

Números são importantes, mas o contexto é tudo. Esse crescimento acontece em um mercado saturado, com concorrência feroz e clientes cada vez mais exigentes. O ARPU móvel (receita média por usuário) subiu apenas 3,9%, chegando a R$ 31,5.

Parece pouco? Na verdade, em um mercado onde a pressão por preços é constante, manter ARPU crescente é uma vitória. Significa que a Vivo está vendendo mais valor, não apenas mais volume.

O Que Isso Revela Sobre o Futuro das Telecomunicações

A decisão da Vivo de ignorar a Oi Soluções e a Desktop não é fruto de arrogância. É disciplina estratégica. Em um setor onde muitas empresas crescem por aquisições desesperadas, a Vivo está mostrando que crescimento sustentável vem de:

  1. Foco em tecnologia de ponta, não em infraestrutura legada
  2. Aquisições cirúrgicas que agregam capacidades específicas
  3. Crescimento orgânico baseado em qualidade e retenção
  4. Convergência de serviços que aumenta o valor vitalício do cliente
  5. Monetização do passado para financiar o futuro

O Impacto na Economia e na Sociedade

Essa estratégia tem consequências que vão além dos balanços financeiros. Quando a maior operadora do país escolhe investir em cloud, cibersegurança e IoT em vez de simplesmente expandir cobertura, ela está sinalizando para onde o mercado deve ir.

Pequenas e médias empresas brasileiras que dependem dessas tecnologias ganham acesso a soluções mais robustas. A competição força outras operadoras a seguirem o mesmo caminho. O resultado? Aceleração da transformação digital do país.

Por outro lado, a concentração de mercado preocupa. Com a Oi em dificuldades, TIM e Claro correndo atrás, e a Vivo consolidando liderança, o cenário competitivo pode ficar perigosamente desbalanceado. E sabemos que monopólios, mesmo privados, raramente beneficiam o consumidor final.

A Pergunta Que Fica

A Vivo está construindo uma fortaleza competitiva ou cavando uma trincheira que pode se tornar sua própria armadilha? Crescimento acelerado em tecnologia é ótimo, mas o setor de telecom sempre foi cíclico. O que acontece quando a próxima crise chegar?

E talvez essa seja a lição mais valiosa: no mundo dos negócios, timing é tudo. Comprar cedo demais é desperdício. Comprar tarde demais é perder a janela de oportunidade. A Vivo parece ter encontrado o ritmo certo.

Mas será que a concorrência deixará?


A verdadeira questão não é se a Vivo vai comprar a Oi Soluções no futuro. É se ainda haverá uma Oi Soluções para comprar quando a Vivo decidir que chegou a hora.

Compartilhe agora!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima
×